“Autismo é apenas uma maneira diferente de ver o mundo, com jeito único de ser”. Eu, particularmente não concordo plenamente com esta frase, ter autismo é muito mais complexo que isso. Uma pessoa com tal condição pode apresentar várias comorbidades, ou seja, condições de saúde ou atrasos no desenvolvimento associadas que levam a ter muitas dificuldades nas tarefas mais básicas do dia a dia.
Uma simples visita ao dentista, por exemplo, não se resume em ir ao consultório, deitar na cadeira e deixar o profissional realizar seu trabalho fazendo as restaurações necessárias. Uma pessoa com autismo precisa ser condicionada ao consultório, aos cheiros, barulhos, pessoas diferentes, textura da luva do profissional e muito mais, isso demanda tempo, com visitas semanais, quinzenais ou mensais e mesmo assim, na hora de realizar o procedimento, este precisa ser feito num centro cirúrgico com anestesia, onde a pessoa passa horas entubada até que todos os dentes sejam restaurados.
Cortar os cabelos então! Ah, como isso é difícil! O barulho da máquina, a sensação daquilo na cabeça, sequer podemos imaginar como o autista se sente, ele pode ter alterações sensoriais que tornam esta atitude de cuidado consigo mesmo em verdadeira tortura. E cortar as unhas, simples não é? Definitivamente para uma pessoa com autismo não é bem assim, da mesma maneira que cortar o cabelo pode ser complicado, eles precisam superar muitas sensações desagradáveis para poder tolerar o cortador de unhas.
A autonomia e independência nas atividades de vida diária como tomar banho, ir ao banheiro, escovar os dentes, trocar de roupas, se alimentar e muito mais, necessitam de muito mais intensidade e manejo para que possam aprender, mas eles tem potencial, nós é que precisamos nos adaptar e ensinar da maneira que eles aprendem. Utilizando materiais concretos e sendo objetivos em cada tarefa, alguns precisam de suporte visual, outros não, pode ser que demorem mais tempo que o convencional, o importante é acreditar e não desistir. Cada uma tem um jeito único e nisso eu concordo.
Estamos em época de isolamento social por causa dos crescentes casos do novo Coronavírus, mas isso para as famílias com autismo não é nenhuma novidade. Muitas pessoas com esta condição não se sentem bem em ambientes com muitas pessoas, preferem ficar só em “seu mundo”, onde se sentem mais seguros e confortáveis. Mas eles precisam ser estimulados a conviver em sociedade, a interagir com as pessoas além do convívio familiar e com paciência podemos incluir cada um na coletividade respeitando sempre suas particularidades.
Como diz Paiva Junior em seu livro: “Autismo: não espere, aja logo!” “o autismo não é uma sentença e sim um desafio”, precisamos nos informar, aprender sobre o espectro e divulgar levando conhecimento ao máximo possível de pessoas pra que possamos combater o preconceito. Também precisamos de instituições como a AMA Videira que oferece aos nossos filhos com autismo uma intervenção especializada, proporcionando a eles maior desenvolvimento em todos os sentidos, pois uma intervenção adequada pode transformar vidas.
Por Vanice Frarão, mãe do Igor Matheus, diagnosticado com autismo e deficiência intelectual.